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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem: https://www.escritas.org/

 

 

SAMMIS REACHERS

 

Nascido em 1978 em Niterói, mas desde sempre morador de São Gonçalo, ambos municípios fluminenses, Sammis Reachers é poeta, escritor, antologista e editor.
Autor de nove livros de poesia e três de contos/crônicas, organizador de mais de quarenta antologias e professor de Geografia no tempo que lhe resta — ou vice-versa.

 

 

REACHERS, Sammis.   Cartas e retornos. Poesia.   São Gonçalo, RJ: Ed. do Autor, 2021.   113 p.  14 x 20 cm.  
ISBN 978-65-00-17828-9  
Ex. bibl. Antonio Miranda

 


Meus amigos, estes poemas não precisam de
apresentação. Falam por si mesmos!

ANTONIO MIRANDA

 

 

 Carta aos fariseus

 

 aquele que bem mata a palabra
é soldado a mando de quem?
seu soldo, concretudes sem
batismo, qual seu sabor
no palato, qual seu peso
na sacola?

vós néscios sob quem
a frágil ponte fraqueja,
vós os assassinos de profetas poetas,
quem vos pariu assim, suicidas?

 

 

 

 Carta à Literatura

 

 Torneira quebrada
no oceano dentro

canivete de Dâmocales
que areja enquanto paira
por sobre suas vítimas
e vingadores

soco civilizatório
bêbada que urina num prostíbulo
como quem forja uma flor

estatuária de ar
corrente de aço entre os homens
alicerce de bolso, jogo de amarelinha
quiche de pus croissant de sangue
feijoada de muitas dores mudas derramadas
egografia, fútil periplo,
orgasmo múltiplo
alucinada pero pálida
imitação da realidade.
deusa assunta o terror
donde se foge

 

 nudez ensaiada
sanatório sideral dos tuberculosos
de Qorpo e d´alma
falsa apólice, nota promissória
invencível armada.

 

 todo seu camino é um descaminho

 

 

 

 Carta ao Livro

 

 Esquizofrenia aristotélica

 Logofrenia
logofrenesi
Elucidário
Ossário papelopatético
Farelo de homens
Torre-árvore de Babel
Carruagem de sophia
Barc´asa de Caronte
Jangada fraterna
Pégaso de papel e tempo

 

 Livro Cenotáfio
spiritual memorabilia
Cismário portátil
Totem que farfalha
Cabula & quebra das cabalas
Transitividade indireta
Joaninha frágil da esperança
Coração da comeia antrópica
Self-service canibalista
Salvo-conduto pelos quinto dos infernos
Forja à frio de esculpir amigos

 

 

 

 UNÍVOCOS

 

 Um poema de minha juventude, lá pelos 20, 21 anos que
estava “perdido”, e que serve de marco para minha frágil
incursão pela poesía experimental.

 

 

 Fui-lhe muito longe no dentro
mesmei-me naquela coisa

Ficamos unos, uni-munidos
de nós, tornados o mesmo mito
loclupletado de signos
de sem-vergonhices lingüísticas.

Nessa liberdade hiperlaica
sentí-me em ti
e consegui-nos

Falei-me.
-Agora cavalgamo-nos felices,
sei que se plantar
vou colher vocéu

 

 

 

A inocência do primeiro verso

 De noite-conflagração
Que ao homem
Lhe escurece o dentro
Ouvi o chamado da verbosfera.
De pronto, réu do desaviso,
Respondi com um uivo impúbere.

Achei que estava impune.
 

 

 

 

REACHERS, Sammis.  Poemas da Guerra de Inverno.  Segunda    
edição revista e ampliada. 
São Gonçalo, RJ: Ed. do Autor, 2014.  
100 p.  14 x 21 cm.    ISBN  978-65-00-15633-1
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

 A Náusea 

 

                                                                   1942

Num espelho encardido afixado
Numa moldura Luis XIV
Vislumbro em seco recorte
o meu vazio e o vazio
De meu quarto, encardidos

Este charuto, este rosto cansado e míope
É como Jean-Paul Sartre?

Uma semana sem Simone, sem
Notícias, sem concluir uma página siquer
Sorvendo a maresia nauseante
De todo o absurdo, este, o Todo
Absorto em resistir, em construir
Um mundo dentro da Europa-
um-
quarto-
frio

 

 A Guerra freme mas me talha esta sensação
De que o tempo, inábil, esculpe o shomens em tédio
Tentando forçar uma neutralidade artificial
Que não existe, não pode existir

Estamos aquí, um triálogo
Entre o Absurdo e o Ego e a Morte,
A Morte monologal

Hoje
ao descer para buscar a correspondencia
Vi a filhinha do casal ao lado, os marroquinos
As crianças não costumam sorrir-e,
Mas havia,

Um sorriso constante–teimoso sempre no rosto dela,
Sempre
Como algo vermelho rompendo uma muralha

Por um instante, naquele momento-bouquet
eu vi cores caudalosas lampejarem
Nesta semana cinzenta.

 

A Náusea, título do célebre romance existencialista de Sartre, publicado em 1938, é uma de suas obras mais conhecidas.
Jean-Paul Sartre, filósofo, escritor e crítico francés, conhecido como o
representante e mesmo principal pensador e propagandista da corrente
filosófica denominada Existencialismo.
Na Segunda Guerra Mundial serve como meteorologista no exército francés.
Em 1940 é aprisionado, sendo solto sem 1941, quando se engaja na
Resistência Frances.
Simone de Beauvoir, escritora, filósofa e feminista francesa. Manteve um
singular caso amoroso com Sartre, um tipo de “relação aberta”.

 

 

 

 Batalha de Guadalcanal   
                                                                            1942

Tudo ao meu redor
Jaz sepulto sob um
Epitáfio
Uma palavra que resume
O Homem, resume
Tudo em si
C    O    L     A     P   S    O


 

 Quanto a mim,
Não desvio meus de Ti,
 Amanhecer

 

 

 

Guantánamo

                                                   Dezembro 2004

 

 

Sou o prisioneiro número
00110177990834659930943248776
No Mundo-Que-Não-Era-Para-Ser
Sou Alice, Sammis, Bandeira
Ontem
Pela centésima terceira vez
Lancei minha cabeça
Contra o Espelho
Mas ele é inabalável
Como o sol

Um outro louco,
Egípcio educado em Londres
Que diz sempre ter
Sido um dos príncipes
Que assinaram a
Paz em Westfália
Diz: - Continue, mujahedin!

 

 

Eu nunca fui convidado a assinar um tratado de paz

Também nunca me convidaram para um baile de máscaras
Ou roda de dervixes
Também não kfui convida a ser
Nasci 

 

   

 

        Bagdá 2006 (07, 08…)

                                                                       2006

 

         Filho, nesses días eu ainda via.
A criança
— uma criança iridescente,   

       Um criança impossível -
escondeu
a lacrada caixinha
sob os escombros da escola,
ali, naquela esquina.

Você ainda enxerga?
Oh por favor, então, soldier,

       traga-me de volta,
se for (c)a paz.

 

 

 

O FIM

 

Naquele Dia
toda a gama dos espectros eletromagnéticos
invertir-se-á.
os sons soarão de revés,
as luzes brilharão ao contrario

quando o Anjo tocar sua grande flauta

a rEal.IchDe inteira se enrolará
como papiro incendiado, numa
omni-vasta-espiral-big,crunch

 

O pau-de-arara o garrote a dama-de-ferro o tronco o chicote
nunca nunca nunca mais

 



 

***

 

 

Veja mais textos do autor em

https://www.escritas.org/pt/n/sammis-reachers

 



FANZINE SAMIZDAT – POESIA – CONTO – LITERATURAGENS
    # 02 – 2021   [São Gonçalo – Rio de Janeiro                                                                     Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Do outro lado do teu medo há um palácio

Do outro lado do teu medo há um palácio
guardado por arautos transido em armaduras de grafeno
que empunham a mais altivas das bandeiras
onde tua “A Experiência Capital” luz timbrada

do outro lado do teu medo há um trono
de jasmim e memórias de lágrimas extintas
no centro do palácio, aeródromo sem check-in
que dá acesso ao terceiro céu

do outro lado do teu medo, muralhas
após há um ápice, pontiagudo platô
onde é possível contemplar, descarnada
e finda, tua ígnea saga de arromba-portas

do outro lado do teu medo, logo
ali, centímetros além de tua prematura
derrocada, há um jardim imorredouro
erigido em âmbar gris pelo Rei dos reis

Do outro lado do teu medo, sete véus
d´além d´Avenida dos Procrastinados
ruas de honradez rebrilham sob o sol invicto
que lança sombras no ossário das desculpas

do outro lado do teu medo, enfim
há um princípio que a tudo dilacera, renovo
que além do precipício vocifera
e, em urros contra a atua covardia, aguarda.



CARTA AO LIVRO DE BOLSO

Adolescido tono
lanterna de afogados

paraninfo da literatura
rancho da tropa, democrática
classe econômica
talismã, lítero muiraquitã iniciático

sustentáculo dos sebos, colecionário
de ceitils, centavos e xelins

ingresso de matinê
na nau de Stevenson, na floresta
de London
na faiscante Parias espadachim e amante
dos Dumas

condensário das imensidões
de Moby Dick ao pai Quixote

dramas d´antanho em prosa e papel jornal
poemas seletos lidos com lenta pressa
enquanto sacoleja o bonde ou o busão

lâmpada de celulose que exulta
na cama de solteiro do quartinho dos fundos
tanto te devemos, fiador dos desamparados
bengala dos moços, livro de bolso


CARTA AO PERDÃO

Ideia parturiente
primavera para sempre
presente raro

Cristoterapia
panaceia dos mundos
flecha de ressuscitar

Arte de partir gaiolas
testada contra as muralhas

riso mudo
inconsútil abraço concentrado
gesto canoro, alado, pacificanário
constritor da morte
construtor da vida

paralelepído de luz
atiçado contra a cabeça da serpente

Perdão, flor-fortuna
que enriquece e perfuma
a quem o despende

 

*

 

Página ampliada em abril de 2022

 

 

 

 

Página publicada em abril de 2021


 

 

 
 
 
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